Autonomia reprodutiva em Angola: entre continuidades e ressignificações

• Editora:  Devires
• AUTORE(S): Florita Cuhanga António Telo
• ISBN:  9786589601005
• Edição: 
• Formato:  16.00 x 23.00 cm
• Páginas:  320

SINOPSE

Discutir a autonomia reprodutiva a partir da realidade das *mulheres angolanas. Este é foco desta publicação.A definição de autonomia reprodutiva surge da noção de direitos reprodutivos e se traduz no direito de qualquer pessoa fazer escolhas reprodutivas, decidir sobre ter ou não filhas e filhos e definir o número e o respectivo espaçamento entre as gestações. Em outras palavras, se perceber e agir como sujeito de direitos reprodutivos e exercer a cidadania reprodutiva. Nesta linha, este é um estudo na área interdisciplinar sobre gênero, mulheres e feminismo, que tem como proposta apresentar alguns resultados da minha pesquisa de doutorado sobre o processo de construção da autonomia reprodutiva de cinco mulheres angolanas que escolheram ter apenas uma filha ou filho. Mais do que discutir o número de filhos e/ou filhas, o ponto central deste livro é o exercício da escolha.
À primeira vista, essa é uma realidade que, em Angola, é considerada como impossível para umas pessoas e excepcional para outras. Por isso mesmo, decidi assumir este desafio.

BIOGRAFIA DA AUTORA

Nasceu em 1983 na província do Uíge. Aos seis anos, foi viver com sua mãe em Luanda. Graduou-se em Direito na Universidade Agostinho (2008). No mesmo ano, participou do programa de intercâmbio em Direitos Humanos promovido pela OSISA e pela ONG brasileira Conectas DH. Nesta ocasião, participou como ouvinte da Pós-Graduação da PUC-SP, onde estagiou no Centro de Práticas Jurídicas e também na Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Foi formadora e advogada-estagiária na ONG Mosaiko – Instituto para a Cidadania. Atuou em diversos projetos sociais no meio corporativo. Concluiu o mestrado (2012) em Direitos Humanos na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba, no Brasil, onde fez parte de instituições de defesa de direitos, como o Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB e a ONG Bamidelê. Finalizou o doutorado em Estudos Interdisciplinares sobre Gênero, Mulheres e Feminismo, em 2019, na Universidade Federal da Bahia. Publicou diversos artigos científicos nas áreas de direitos reprodutivos, educação em direitos humanos, direito internacional/regional dos direitos humanos. Foi professora auxiliar e diretora do Centro de Estudos e Pesquisa do Instituto Superior Politécnico de Benguela, onde atualmente é pesquisadora externa. É fundadora e diretora geral da FCT Consultoria em Gênero e Direitos Humanos. Atua igualmente como pesquisadora do Centro de Direitos Humanos e Cidadania da Universidade Católica e integra o Grupo de Estudos Feministas em Política e Educação da Universidade Federal da Bahia. Já foi diretora adjunta da Associação Angolana Observatório de Políticas Públicas na Perspectiva de Gênero.

OPINIÃO

O livro traz uma reflexão inédita para o contexto angolano, debruçando-se sobre as dimensões que afetam as escolhas das mulheres sobre a parentalidade, dando voz, especificamente, àquelas que optaram por não ter filhos(as) ou tiveram apenas um (uma). Essa problemática não é recente para as teorias feministas, para as quais os temas do parentesco, em especial, as maternidades, sempre foram centrais. Entretanto, nessa obra, apesar da manutenção dessa centralidade, o olhar escorrega, deslocando-se, denunciando o caráter eurocêntrico dos debates globais sobre autonomia reprodutiva, alicerçados na noção de indivíduo, ao passo que, no contexto angolano, a autonomia só é possível de ser compreendida em um viés comunitário. Desta forma, também a “escolha individual” é permeada por relações sociais e a negociação se dá na equação entre a posição da mulher, de seus companheiros, familiares, vizinhos, colegas de trabalho e amigos.