O Grindr é considerado um dos maiores aplicativos baseados na
localização voltado para homens que buscam por relações homodesejantes. O
nome da plataforma digital foi inspirado pela ação de uma moedora de café (em
inglês: grinder), uma vez que seu principal objetivo é promover a sociabilidade
entre os usuários, tanto online como off-line. Observa-se, todavia, que as
relações homodesejantes são permeadas pelos ideais da masculinidade
hegemônica e pela abjeção ao efeminamento. Enquanto os homens que se
enquadram no modelo dominante de masculinidade são constantemente
erotizados, os efeminados se tornam vítimas da efeminofobia, tanto no mundo
real quanto no virtual. Portanto, essa pesquisa qualitativa visou tecer reflexões
acerca dos ideais de masculinidade hegemônica e os discursos efeminofóbicos
que perpassam as relações homodesejantes mediadas pelo Grindr na zona urbana
de Porto Velho-Rondônia, pautando-se nas contribuições dos estudos viados. A
investigação se consolidou sobre dois arsenais metodológicos: a etnografia
virtual e a realização de entrevistas individuais com 10 usuários do aplicativo.
Foram evidenciados sentimentos e discursos efeminofóbicos nas descrições de
perfil analisadas. O estigma e a estereotipia socialmente afligidos aos homens
efeminados se replicam no Grindr em forma de preferências eróticas expressas
em descrições de perfil com discursos apologéticos. Os relatos dos
colaboradores demonstraram a internalização desses discursos e dos ideais da
masculinidade hegemônica cuja supremacia se perpetua não apenas através da
coerção, mas também através do consentimento. Destacou-se, além disso, que as
demandas referentes a esse modelo de expressão de gênero giram em torno do
mesmo ideal: Pareça heterossexual., mesmo que não seja! Ressaltou-se que tais
exigências se camuflam por trás da idealização reiterada do corpo sarado,
musculoso e liso. concebido socialmente como sinônimo de enquadramento nos
ideais da masculinidade hegemônica cuja propagação passa também pelo crivo
de intersecções como o papel sexual, a classe social, a faixa etária e a raça. Os
relatos dos colaboradores expuseram comparações entre a plataforma digital e o
mercado de carnes, evidenciando a lógica mercadológica que pervaga
aplicativos como o Grindr. Assim, muitos usuários se apresentam imagética e
discursivamente como consumidores-produtos cuja característica mais
importante é o enquadramento no modelo dominante de masculinidade (ser
macho). Para tanto, precisam renegar atributos que remetam ao efeminamento
ou ponham em xeque os ideais de masculinidade hegemônica impostos pela
matriz heterossexual, pois aqueles os alocariam ao abjeto e os arremessariam
fora do mercado das relações homodesejantes mediadas online. Recomenda-se
que plataformas digitais como o Grindr lancem campanhas contra a
efeminofobia, principalmente em cidades de médio porte como Porto Velho
onde os ideais da masculinidade hegemônica se propagam coercitivamente.
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